Tigre é daquelas coisas muito especiais a aparecerem por aí. Primeiro, porque é o EP mais completo que tem aparecido nos últimos tempos, se bem que os 35 minutos de duração ajudam. Segundo, porque é da melhor electrónica que tem surgido. Terceiro, porque serve um propósito de influências Dance e não só que tornam tudo isto numa mistela electronicó-cultural impressionante. Vejamos:
Uma Vida Pela Frente é um festim de electrónicas progressivas que desata a determinada altura num delírio sonoro; Eu E Tu (Ela) é música de bater o pé com uma bassline matadora e uns samples vocais bastante interessantes (a lembrar qualquer coisa muito funk); Mortalha Barato é aquela música para droga que não pode faltar num álbum que traz consigo o conceito Dubstep: uma espécie de reggae distorcido sob uma batida e um bass muito dub; Mourão Dub, por sua vez, é o mais estranho e talvez melhor momento do EP, uma música de fusão que junta uma espécie de acordeão obscuro com uma bassline e alguns arranjos muito pop/rock; Essa Cana Aí explora samples de forma excelente e fornece-lhes uma atmosfera muito Dubstep; Bitch Queen Boogie tem tudo o que o seu nome indica: anos 80, trompetes da época e ainda uma batida muito cool que parece ter saído da primeira House e descende um pouco do Disco; Amar Assim põe um fim ao muito bom EP e é também uma música muito complicada de descrever, que vejo como uma fusão da primeira e segunda faixa, com uma guitarra muito bem metida pelo meio.
E com uma descrição destas, podia este não ser um EP que vale a pena?
* e só para pôr algum defeito à coisa, o artwork está muito mau.
A Circus Maximus, mais jovem netlabel nacional, provou um começo interessante com o EP de música electrónica assinado por Infestus, uma das melhores cenas que ouvi este ano. A sua segunda edição (EP homónimo de 5 músicas e 23 minutos dos The Ramblers) chegou ao Hype Light e veio creditado como Blues. A sonoridade da banda assenta-se precisamente nas influências norte-americanas, seja da música negra ou do rock'n'roll. O que significa que aqui hão-de encontrar uma boa dose de ritmo, guitarras no ponto, um orgão que eu considero especialmente fantástico e ainda uma vocalista carismática. São, estes, de resto, os pontos fortes deste colectivo. E não se enganem: esta é música feita por sujeitos que, se não são profissionais, tocam como tal. E está a muitas milhas de tudo o resto que podem encontrar no netáudio; isto é música de sempre e para todos. Uma compilação sonora de muitos anos de cultura americana e do bom-fazer rock. Seja pelo solo de guitarra em Bad Luck Soul, pela voz de "Rosie" em Devil's Gospel ou pelos intrigantes 6 minutos de Blues Nest, saquem isto que não é coisa que se ofereça muitas vezes. Nota-se contudo, e mais para aqueles cultores indie que andam aí, uma falta de personalidade que pode ser preocupante e que se pode revelar um entrave no caminho de uma banda que tem a capacidade técnica de fazer música capaz de cativar Portugal inteiro e de não deixar ninguém indiferente. Mas sobre isso, esperemos. Esta ainda "só" foi uma primeira amostra.
Algo isolados das cenas musicais mais movimentadas de Portugal, os Pyroplastos servem-se deste simples Demo de 3 canções e 17 minutos para promover o seu trabalho. As gravações não são boas, como aliás nunca o são as gravações caseiras/amadoras. O som, felizmente, tem menos falhas, apesar de também encontrar os seus defeitos.
A banda apresenta-se como uma junção de Rock, Ska e Psicadelismo, estando este último termo mais deslocado do que os restantes e não tão evidente. Aliás, o que está em falta nos Pyroplastos é talvez um pouco mais de raça Psicadélica. De resto, temos um grupo muito interessante: tendo em conta que é formado por malta de 17 e 18 anos.
As influências são boas, e nota-se que estes adolescentes (bastante talentosos, por sinal) andaram a estudar afincadamente os manuais do bom Rock e assentam os ouvidos nas décadas que precederam o presente milénio. O que também é bom é eles o fazerem sem quererem ser os próximos Nirvana, nem os próximos Soundgarden, nem os próximos Foo Fighters. Os Pyroplastos souberam compor um som só seu e isso é algo notável; conhecem as pautas e as estruturas de uma canção, e os únicos defeitos técnicos a apontar neste Demo estão no vocalista.
Falando em particular, o disco começa com a "quase-quase-comercializada" Anjos, uma música que fica um pouco longe da praia do Ska. Felizmente, Motivos apanha no Ska banhos-de-sol suficientes para um escaldão; é também o momento mais interessante desta rockalhada toda, com 7 minutos a passarem tão rápido como os 4 anteriores. Verdades Envergonhadas segue a tendência e demonstra um vocalista felizmente mais contido e mais no ponto.
Resumindo, os Pyroplastos não são uma banda perfeita, como não o é nenhuma e muito menos numa fase da carreira como esta (e com elementos tão jovens), mas é promissora que chegue para este Demo 2009 valer uma escutadela sua. E, mais importante que tudo, tem personalidade que chegue para se distinguir de quase todas as bandas de gente (muito) jovem a surgirem como coelhos por Portugal.
E cantam em português, caralho!